Simbolismos de Mammon

Lucas 16:13 – “Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”.

Mammon é um termo que originalmente se referia a riquezas materiais, significando tanto “dinheiro” quanto “posses”, e o nome é usado tanto para expressar estes conceitos quanto para denominar um demônio que personifica a ganância e a avareza. Na tradição cristã, o termo é mencionado na Bíblia como um ídolo ou deus falso adorado pelos pagãos e considerado um dos principais obstáculos para alcançar a salvação. 

A figura do demônio Mammon também foi incorporada em outras tradições e culturas, representando a luxúria pelo dinheiro e a busca excessiva pela riqueza material. Na tradição de grimórios, esta figura é citada apenas “an passant”, mas nos grimórios mais recentes aparece sendo evocada para obter ganhos financeiros ou materiais.

The Worship of Mammon – Evelyn De Morgan (1855-1919)
Mammon no Dictionnaire Infernal (1863)
Mammon – George Frederick Watts (1884-1885)

Hierarquia

Não há uma hierarquia estabelecida na tradição cristã ou em outras tradições que incluam o demônio Mammon. Na demonologia cristã, a hierarquia demoníaca é baseada na suposta classificação dos demônios em ordens ou legiões, mas a figura de Mammon não é frequentemente mencionada nesse contexto. Mammon é geralmente considerado como um dos muitos demônios que representam a tentação da ganância e avareza, e que podem exercer influência sobre os indivíduos que são propensos a esses vícios. 

Olhando por um ponto de vista mais geral, Mammon teria regência sobre todos os demônios do dinheiro, sendo o mestre do círculo do inferno onde eles vivem, e onde os gananciosos são punidos. No Inferno de Dante, este seria o quarto círculo, chamado “A Colina da Rocha”, onde as riquezas materiais vindas da vida terrena se transformam em enormes barras de ouro, que os avarentos empurram uns contra os outros.

Em relação às similaridades com Amaymon (aka Maymon ou Moymon), além do nome em si, ambos podem ser considerados demônios que governam sobre riquezas e bens materiais. Amaymon é especialmente associado à riqueza obtida através do comércio e da indústria, e caso Mammon seja igualado a Amaymon, sua hierarquia seria a de “imperador cardeal”, cuidando do Leste em alguns grimórios, e do Sul em outros. O dragão que serve de montaria (e de meio de transporte) para Amaymon é associado a Gaap, que é um dos príncipes do Ars Goetia.

Mammon em A Popular History of Witchcraft (1936)

Aparência

Algumas tradições medievais representam Mammon como um demônio com cabeça de bode, asas de morcego e um corpo humanoide com traços deformados. Já em outras tradições, Mammon pode ser descrito como um ser humano corpulento e rico, vestido com roupas luxuosas e ostentando joias e outros bens materiais. No Dicionário Infernal, é ilustrado como um homem magro e idoso com olhos arregalados segurando sacos de ouro, e é importante ressaltar que essa representação é problemática, tem forte caráter racista e anti-semítico, sendo apenas mais uma dentre tantas representações similares onde os judeus são representados como gananciosos, avarentos, e traços exagerados.

Em relação a Amaymon, algumas fontes o descrevem como um homem com barba e cabelos longos, usando uma coroa e montado em um cavalo ou um dragão voador. Outras descrições apresentam Amaymon como um ser com duas cabeças de corvo ou com traços animais. Já no Livro de Oberon, Amaymon é o Imperador do Sul, aparecendo como um homem com barba longa e crina de cavalo. Tem uma coroa na cabeça e monta em um leão selvagem, carregando um cetro e sendo recebido com sons de instrumentos musicais. Seu animal profano na Clavis Inferni é um Pássaro ou Fênix.

Amaymon na Clavis Inferni (1757)

Poderes

Como já descrito, Mammon é frequentemente associado ao poder da riqueza e do dinheiro. Ele é considerado um demônio que tenta os humanos com a ganância e a avareza, levando-os a buscar a riqueza material a todo custo. Pode ser evocado para conceder prosperidade financeira, sucesso nos negócios e outras formas de riqueza material. Sua figura também é associada à corrupção e à exploração, representando a face sombria da ambição desmedida e da busca excessiva pelo lucro. 

É sempre importante ressaltar que demônios são seres amorais, e que a falta ou o excesso de cada uma das energias representadas por eles pode levar a consequências desvantajosas. Por isso, paralelamente a todo ritual, deve ser realizada uma autoanálise de forma a não deixar aquela influência levar a cada praticante para o lado nefasto da energia convocada.

Simbolismo

Cada um dos animais que fazem parte da iconografia de Mammon e Amaymon possui diferentes simbolismos e significados associados ao dinheiro e aos bens materiais, de acordo com diversas tradições e culturas. 

A fênix é frequentemente associada à renovação e ao renascimento na mitologia egípcia (pássaro Bennu), grega e romana, simbolizando a capacidade de superar as adversidades e os desafios. Em algumas tradições orientais, como a chinesa, a fênix também é vista como um símbolo de prosperidade e riqueza. O cavalo, por sua vez, é frequentemente associado ao poder, à força e à elegância. Na mitologia grega, o cavalo é frequentemente associado a deuses como Poseidon e Apolo, enquanto na mitologia nórdica, é um símbolo da guerra e da vitória. Em algumas tradições orientais, como a chinesa, o cavalo é visto como um símbolo de sucesso nos negócios e nas empreitadas comerciais, representando a habilidade de se mover rapidamente em direção aos objetivos financeiros.

O corvo é frequentemente associado à sabedoria e à inteligência na cultura celta e indígena norte-americana. Na mitologia nórdica, o corvo é associado ao deus Odin, simbolizando a morte, a magia e o conhecimento oculto. Por conseguir ver objetos brilhantes à distância e muitas vezes colecionar esses objetos, o corvo é considerado um guia ou “familiar” ótimo para o sucesso financeiro e a prosperidade material. Já o dragão é frequentemente associado ao poder, à riqueza e à proteção, além de representar a ganância e a avareza ao tomar conta de sua pilha de tesouros acumulada ao longo das Eras (o que pode ser visto, por exemplo, na lenda de Fafnir que se tornou Smaug na cultura pop). Na cultura chinesa, o dragão é visto como um símbolo de boa sorte e fortuna, enquanto na cultura japonesa, é associado à coragem e à liderança nos negócios e nas finanças.

Rituais

Um ritual para entrar em contato com Mammon pode utilizar seu nome escrito em língua comum ou em algum alfabeto mágico, ou então um sigilo construído especificamente para esta finalidade (existem selos contemporâneos, mas são criados especificamente por magistas para os trabalhos de seus grupos e ordens, e não fazem parte da tradição de grimórios). Também podem ser usados os símbolos que aparecem ao redor de Mammon na ilustração mais conhecida em “A Popular History of Witchcraft” (1936). Já no caso de associar-se Mammon a Amaymon, pode-se recorrer ao seu selo nos grimórios “Clavis Inferni”, “Summa Sacrae Magicae” ou “Fasciculus Rerum Geomanticarum”.

Selos de Amaymon na “Clavis Inferni”, “Summa Sacrae Magicae” e “Fasciculus Rerum Geomanticarum”

O ritual pode ser realizado meditando-se sobre a riqueza e a prosperidade, e sobre os meios pelos quais a pessoa desejar que esta riqueza venha até ela. Velas douradas ou amarelas podem representar a energia da riqueza e do sol, enquanto resinas vegetais (associadas ao sol), incensos de canela, cravo ou patchouli, entre outros, podem ajudar a atrair dinheiro e abundância.

Pode ser usado um prato com moedas ou notas de dinheiro, que representam a energia da prosperidade e da abundância, além de uma taça de vinho ou cerveja oferecida como um presente a Mammon durante o ritual. Cristais de citrino, calcita amarela ou topázio imperial, que são conhecidos pela associação com a prosperidade, podem ajudar a amplificar a energia do ritual, além de poder ser usada uma imagem ou estatueta de Mammon ou Amaymon, servindo de foco de meditação e atraindo a energia do demônio da riqueza.

Representações Contemporâneas

No filme Constantine, Mammon é retratado como um ser sobrenatural que é filho do Diabo e busca se libertar do controle de seu pai para poder assumir o controle do mundo. Sua aparência é representada como um dos demônios comuns do filme, com o corpo apodrecendo e feições neutras. Sua conjuração, no filme, se dá por meio da ponta da lança de Longinus, que teria sido usada para perfurar o peito de Cristo no momento da crucificação.

Na série Supernatural, Mammon é retratado como um dos Sete Pecados Capitais, descrito como um “demônio das encruzilhadas” que faz pactos em troca de almas, governando a ganância e a cobiça, e aparecendo em vários episódios da série. Já na série Lúcifer, ele é apenas mencionado como tendo o objetivo de se vingar do pai.

Mammon em Constantine, Supernatural, e Obey Me

Referências

Autor desconhecido (~1757) – Grimoire of St Cyprian aka Clavis Inferni; Autor desconhecido (~1577) – Book of Oberon; S.L. Mathers (1904) – The Goetia; Skinner & Rankine (2010) – The Goetia of Dr. Rudd.

Deixe um comentário